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terça-feira, 20 de maio de 2014

Col ducol duTourmalet

Col du Tourmalet - A quase derrota
(Por Luiz-Saint-Sauveur)





O Col/Passagem du Tourmalet, juntamente com outras passagens, é uma das razões pelas quais vibro com o Tour de France. A dureza, a sua beleza, e a sua história fazem dele um "must do". Desde pequeno que tenho vontade de meter as rodas naquelas estradas onde a paisagem nos apanha completamente a atenção e por mais cansados que estejamos a bicicleta anda.. e anda. Verdade seja dita, desde que vim para aqui, estava impaciente que a neve desaparecesse para me fazer à estrada: D

Duas semanas para preparar a volta, pois em autonomia total não se sabe o que se pode apanhar pelo caminho, parti de Pau por volta das 6 horas da manhã, com algum frio e roupa a menos. Rumo a Soumoulou e de seguida a Lourdes, o percurso não apresentou grandes dificuldades. No entanto a partir daí, seguindo a rota que o google maps me deu para as bicicletas, tinha de entrar numa auto-estrada, ou numa via em que os velocípedes não podiam passar. Sacar do GPS para traçar uma nova rota e siga. A partir daqui nunca mais se parou, a altimetria engana bem, por mais plano que o perfil seja, há sempre alguma coisa a "estragar" o ritmo. Subida em curva, subida curta e explosiva, enfim, de tudo. A partir foi sempre a subir até ao "sommet". No início da subida em Luiz-Saint-Sauveur, pergunto a alguns colegas do pedal se o acesso ao Col estava aberto, quando me dizem que estava fechado, pois ainda havia alguma neve. No entanto, com 75 kms já nas pernas decidi arriscar, pois fazer estes kms e voltar para trás não era hipótese. Com o começo da subida as dificuldades começaram, o pavimento estava em muito mau estado, devem estar a preparar o pavimento para levar mais asfalto. Depois de entrar em pavimento aceitável, aparece a primeira placa de contagem decrescente para o topo da subida, onde estava marcado cerca de 19 kms a uma média de 3%. Disse eu: "Faz-se". No entanto após os primeiros kms percorridos, a coisa muda de figura, e aí aparece uma média de 7%, mantendo-se entre este valor e os 9% até ao topo. De entre cabras e ovelhas a pastar e vacas no meio da estrada, ia-me distraindo. No entanto, chegado à parte de neve, nunca tinha experimentado pedalar em neve, o reflexo do sol nesta, começou mesmo a incomodar, e com o corpo a pedir comer, passei um pouco mal.
Chegado à barreira de bloqueio, existia uma pequena derrocada, havia neve na estrada e tinha-se de desmontar, fazer um pouco de cross. Cheguei a experimentar "Sku" (a falta de pitons nas sapatilhas tem disto). A partir daí foi um misto de a pé e de bicicleta durante 3 kms, o gelo na estrada é mesmo manhoso (tricky)! Chegado ao topo, paragem de 20 minutos para recuperar forças, no entanto reparei quefaltava uma parte importante no sommet, a estátua de Octave Lapize, que creio ter sido removida temporariamente devido ao Inverno. Fotos para mais tarde recordar, panorâmicas, selfies e entre outras, e começar a descida durante 19 longos kms.
Se disse mal da subida e fartei de lhe chamar nomes, pois bem, a descida não fica atrás, não levei corta vento, e como ainda havia muita neve, vento e gelo na estrada, não consegui parar de tremer a sério até ao fim desta. Além disso, não podia dos pulsos de tanto travar.
A neve é bonita, mas ao longe, com roupa, ou mesmo só nas fotos!
Paragem no sopé da montanha para uma sandes de fiambre "qualquer coisa", uma Coca-Cola, e 1,5L de água, e começar a apontar direção para casa. Mesmo de manhã, notei já algum vento, que estando contra, pensei que estaria a favor no regresso, no entanto para variar, o vento está sempre contra. Regresso tranquilo, sem furos (espero não falar cedo demais) e com algum ritmo, mas não ter roda para ajudar é complicado.
Fica na memória a mistura entre neve/pó, que quando se revê fotos antigas deixa uma nostalgia e parece que se recua no tempo, estando a presenciar esse momento que não digo épico, pois esta palavra é usada a torto e a direito sem cuidado, mas digno de deixar um valente sorriso na cara.
Não encarar a montanha de ânimo leve! Respeito por aqueles que nos anos nas décadas no "início" se faziam à montanha com relações monstruosas e quilometragens absurdas!


Para quem quiser saber um pouco mais:

3 comentários:

Lucas disse...

Grande Ivo , tornaste-te um homem de barba rija ;)

bola7 disse...

nem me passa pela cabeça o que deve ser uma subida dessas, mas pelas fotos deve ter sido qualquer coisa de duro!
Sempre em grande.
mas partilho a tua opinião neve só em fotos e muito muito encasacado

Ivo A. disse...

Rija ou não, a barba estava lá!! ehehe